5.10.08

Eles comeram todas as letras do alfabeto, e ainda sentiram fome.

Li numa revista Viagem, de 2001:


A tentação do batom


Duas vezes castraram o anjo de pedra que adorna o túmulo de Oscar Wilde (1854-1900). Primeiro foi o zelador do cemitério, que achou a escultura indecente e durante anos usou os testículos como peso de papel. Agora, a maior ameaça à sepultura são os beijos de batom. Centenas. Indeléveis. "O batom é a gota d'água", disse recentemente o neto do escritor, Merlin Holland, ao jornal inglês The Observer. "Se querem homenagear a memória de meu avô, deixem seu túmulo em paz! Grafites podem ser removidos, mas o batom contém substâncias que são absorvidas pela pedra e deixam marcas terríveis", disse o neto. Em novembro do ano passado, fez um século da morte de Wilde. Morreu relativamente jovem (46 anos), miserável e esquecido no Hotel Beaux Arts, em Paris. Formado em Oxford, Wilde se instalou em Londres com 25 anos, aos 36 escreveu O Retrato de Dorian Grey e aos 41 foi condenado, por "delito de homossexualismo", a dois anos de trabalhos forçados. (...) Sua ex-mulher foi obrigada a usar pseudônimo, para preservar seus dois filhos da fúria dos anti-homessexuais. Hoje Wilde é idolatrado por gays de todo o mundo. Uma de suas frases mais célebres é uma apologia à liberdade: "Eu consigo resistir a tudo, menos à tentação". Talvez os seus herdeiros tenham que se conformar com os beijos de batom. É bem capaz que o escritor os aprovasse.